A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na manhã desta terça-feira (8) não trouxe sinalização clara sobre a magnitude das próximas altas de juros, apesar de ter sinalizado que ela deve ser de menor intensidade do que no último encontro, quando o Banco Central elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, a 10,75% ao ano.
Contudo, o teor do documento, considerado hawkish (duro com a inflação) trouxe algumas sinalizações que os analistas estavam tanto esperando após a decisão do Copom, uma vez que o recado após a decisão foi considerado dovish (mais suave com relação à inflação).
Os integrantes do comitê tornaram, com a ata, mais clara a necessidade de juros mais altos e por mais tempo até que a convergência à inflação fique mais evidente, apontam economistas. Assim, muitos dos especialistas que viam o ciclo de alta encerrando-se em breve, revisaram ou passaram a considerar uma revisão de suas projeções para uma Selic terminal mais alta e para avanço de juros além da reunião de março.
Tais sinalizações têm impacto no mercado de juros futuros, que avançaram ao longo da curva. Os rendimentos dos DIs com vencimento em janeiro de 2023 avançaram 13 pontos-base, para 12,12%. No restante da curva, o DI com vencimento em 2025 avançou nove pontos (11,11%), o para 2027 subiu nove pontos (11,23%) e o para 2029, treze (11,51%).
Após a ata, o Bank of America elevou sua projeção para o patamar da taxa básica de juros ao fim do atual ciclo de aperto monetário do Banco Central do Brasil a 12,25%, contra estimativa anterior de Selic terminal de 11,25%.
“O BC afirmou que a desaceleração do ritmo de alta de juros é o caminho mais adequado para alcançar a convergência da inflação à meta e reancorar as expectativas, mas sugeriu que haverá mais ajustes à frente, em vez de uma alta final em março, como esperávamos”, explicou em relatório David Beker, chefe de economia no Brasil do BofA.
Segundo o banco, a taxa Selic deve ser elevada em 1 ponto percentual em março, ajuste que será seguido de alta de 0,5 ponto em maio. Anteriormente, a expectativa do BofA era de elevação final de 0,5 ponto no mês que vem.
O JPMorgan foi outra instituição que revisou as suas projeções passando de uma projeção de Selic terminal de 11,75% com mais uma alta de 1 ponto em março para projetar agora mais um avanço de 0,5 ponto em maio.
“Esta abordagem mais agressiva de a autoridade monetária, no curto prazo, também nos leva a pensar que o ciclo de flexibilização pode começar mais cedo no próximo ano, mas não tão cedo quanto antecipado pelos mercados. Supondo que o próximo governo ofereça um abordagem pragmática em relação às perspectivas da política fiscal, mudamos nosso call de primeiro corte de 50 pontos do início do segundo trimestre de 2023 para o final do primeiro trimestre do próximo ano”, avaliam os economistas.
O Barclays ressaltou que a ata enviou duas mensagens: o Comitê vê a necessidade de aumentar a taxa Selic acima do que está embutido em seu cenário de referência (portanto, acima de 12%), mas pretende fazê-lo em uma velocidade menor, em várias etapas. O banco notou que na semana passada o colegiado já havia utilizado a expressão “próximos passos”, em vez de linguagem no singular, e, assim, decidiu revisar sua estimativa para uma alta de 50 pontos-base em maio.
“A ata de hoje é ainda mais clara ao sinalizar a probabilidade de ‘ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões’, o que para nós significa que o BCB planeja elevar a Selic pelo menos mais duas vezes, provavelmente em 100 pontos-base em março e 50 pontos-base em maio”, disse o Barclays em nota, vendo a Selic em 12,25%.
O Itaú, que destacou depois da reunião esperar uma alta de 1 ponto percentual da Selic do Copom de março, mas sem descartar um movimento final adicional menor em maio, destacou esperar após a ata que o ciclo de aperto monetário termine com a taxa Selic em 12,50% ao ano. “Seguimos esperando um movimento de 1 ponto na próxima decisão, em março”, avalia.
Destacando ver a mensagem como diferente da decisão da semana passada, o Bradesco BBI também revisou suas projeções. “Com as novas informações, estamos revisando nossa expectativa para a taxa Selic. Vemos agora uma alta de 1 ponto percentual na próxima reunião, seguida de outra alta de 0,75 ponto, levando a taxa Selic a 12,50%. Para o fim do ano, alteramos a projeção de 11% para 12%”, ressaltaram os economistas.
Balanço de riscos
Segundo Luca Mercadante, economista da Rio Bravo Investimentos, a ata do Copom reforçou a trajetória da política monetária indicada no comunicado da semana passada, mas o discurso foi mais duro com o fiscal e com a atividade econômica.
“Corretamente, o BC considerou que os riscos das propostas de redução de impostos para controlar preços podem levar a um processo de desancoragem da inflação no horizonte relevante. O discurso mais hawk (duro) do BC também foi visto na atividade, que apesar das expectativas do mercado serem de desaceleração em 2022, foi comentada apenas pelos bons resultados de novembro e dezembro”, aponta o economista.
Assim, com o balanço de riscos ainda pressionado com o risco fiscal e a alta de commodities, o BC deixou em aberto quando será o final do ciclo de alta no juros. ‘Nesse cenário, mantemos, por ora, nossa projeção de Selic em 11,75% a ser atingida em março”, conclui.
A XP também aponta que a ata trouxe um tom mais hawkish (ou seja, mais rígido em relação a inflação) do que o comunicado divulgado na semana passada pelo Banco Central, sinalizando que haverá mais de uma elevação de juros adiante, ou seja, que o ciclo de altas da Selic, mesmo que em menor ritmo, não se encerrará na reunião de março.
“Além disso, o documento também trouxe mais detalhes sobre o cenário de inflação pressionada, destacando a recente alta além do previsto de commodities, especialmente petróleo, e a elevação das incertezas do cenário fiscal – com iniciativas recentes que podem segurar os preços no imediato, mas pioram as expectativas de alta de inflação no longo prazo”, aponta.
Assim, diante da sinalização, a equipe de análise macro esperará a divulgação de mais dados para calibrar o cenário (de Selic terminal em 11,75% em março), mas já atribui um viés de alta para a projeção atual.
O Morgan Stanley também reforça que, enquanto no comunicado o BC aumentou a relevância para 2023 no horizonte da política monetária, ao remover pela primeira vez o trecho de “menor extensão”, na ata os integrantes do comitê parecem estar comprometidos com a inflação de volta à meta no ano-calendário de 2022 e não entre 2022 e 2023.
“Considerando as elasticidades embutidas no modelo de autoridade monetária, bem como nossas premissas sobre repasses e preços administrados, os formuladores de política monetária precisariam trazer as taxas acima dos 11% que temos atualmente em nossa projeção – na verdade, algo entre 12,5% e 13%”, avaliam os economistas.
Eles reforçam ainda ser importante destacar a menção aos riscos associados a uma mudança no quadro fiscal – ou seja, uma violação do teto de gastos. O comitê afirmou que esses riscos, se concretizados, “implicam atribuir maior probabilidade a cenários alternativos que considerem taxas de juros neutras mais altas”.
O Goldman Sachs projeta um aumento de 1 ponto percentual na Selic na reunião de março (com risco de alta de 1,25 ponto dependendo da evolução da inflação e do respectivo balanço de riscos) com outro aumento cada vez mais provável, mas dependente de dados em aberto, para maio. A projeção é de cortes modestos provisoriamente marcados para o final de 2022.
“Em nossa avaliação, uma trajetória de alta mais agressiva das taxas no primeiro semestre de 2022 provavelmente seria acompanhada por uma maior probabilidade de cortes no final do ano, quando o foco da política estará nas previsões de inflação condicional em relação às metas de 2023 e 2024”, avalia.
Fonte: Info Money
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