A elevação dos riscos geopolíticos e o potencial conflito entre a Rússia e Ucrânia elevam a lista de preocupações dos investidores. O que fazer nesse cenário?
Nem 2 meses se passaram no ano, e vários eventos relevantes já ocorreram no mundo. O tema da vez, que tem trazido mais preocupação ao mercado, é a elevada tensão entre Rússia e Ucrânia e a iminência de uma guerra.
As notícias recentes, e confirmadas pelo presidente americano Joe Biden nos últimos dias, indicam que a Rússia estaria na iminência de uma invasão da Ucrânia. O governo da Rússia segue negando que esteja se preparando para uma invasão, mas as notícias e imagens de satélite mostram cerca de 190.000 tropas Russas seguem posicionadas e realizando exercícios nas fronteiras da Ucrânia.
O primeiro ministro da Inglaterra, Boris Johnson, declarou nesse fim de semana que se essa guerra vir a se confirmar, ela poderia ser a maior guerra na Europa desde a 2ª Guerra Mundial em 1945, dado a escala dos eventos. Nas últimas horas do domingo, porém, a notícia de uma proposta de reunião entre Putin e Biden fez melhorar os preços de ativos e trazer esperanças que uma guerra poderá ser evitada.
Tropas Russas na fronteira com a Ucrânia
Como uma guerra poderia impactar os mercados e preços de ativos?
Uma série de ativos podem ser impactados caso uma guerra na Europa vier a acontecer, e listamos abaixo os principais:
- Bonds – Títulos dos governos: os títulos dos governos são sempre entre os primeiros ativos que os investidores compram em um cenário de aversão a risco. Apesar dos preços dos títulos dos governos na Europa e EUA estarem pressionados recentemente, por conta do aumento de inflação no mundo, o aumento da aversão a risco poderia fazer os investidores voltarem para essa classe de ativos, levando a uma queda nos juros desses títulos. Nos últimos dias, já observamos os juros dos títulos de 10 anos americanos caindo de 2,0% para 1,92%, o que já indica essa maior demanda por esses títulos, e um movimento parecido na Europa também.
- No Brasil, já conhecemos bem esse movimento, dado que os investidores tendem a migrar para a Renda Fixa nos eventos de elevação dos riscos.
- Grãos e trigo: o mercado de grãos pode ver grandes impactos no evento de uma guerra, afinal a Ucrânia é o 3ª maior exportador de milho no mundo e o 4º maior exportador de trigo. Já a Rússia é o maior exportador de trigo do mundo. Os preços dos grãos seguem elevados no mundo, e uma eventual guerra pode colocar ainda mais pressão em um cenário de oferta x demanda que já é bastante apertado.
- Nos últimos 12 meses, o preço do trigo negociado na Bolsa de Chicago já apresenta uma alta de +22%.
- Petróleo e Gás natural: A Rússia é responsável por 35-40% do gás natural consumido na Europa, sendo um fornecedor muito importante para países como a Alemanha, que dependem do gás como uma das principais fontes de energia ao país. O preço do gás na Europa mais que dobrou nos últimos meses, e deve seguir pressionado no evento de uma guerra, e de possíveis sanções impostas pela OTAN à Rússia.
- O mesmo cenário também é válido para o petróleo, que já sobe +20% em 2022, acima de US$90/barril. Alguns bancos e analistas já começam a prever o petróleo acima dos US$100/barril, podendo chegar até US$150/barril no caso de um estresse do lado da oferta, segundo o JP Morgan.
- Essa alta elevaria a inflação no mundo, e como consequência, elevaria os riscos de desaceleração da economia global.
- Ouro: o ativo mais conhecido em eventos de um forte aumento de aversão ao risco, é o ouro. Atualmente, essa característica permanece intacta, e o Ouro já sobe +6% apenas no mês de fevereiro. Vale notar que o ouro vinha sendo pressionado pelo aumento das taxas de juros no mundo, que acabam competindo na demanda por ouro. Porém, caso os juros nos títulos dos governos cedam, como mencionamos acima, isso poderia ajudar a ser um propulsor adicional ao preço do ouro.
- Moedas de Emergentes e Dólar: o aumento pela demanda por títulos do governo americano tende a levar também a uma apreciação do Dólar em relação à outras moedas. As moedas de Emergentes, nesse cenário, tendem a sofrer por serem vistas como ativos de “maior risco” pelos investidores.
- O Real brasileiro está entre as moedas de melhor performance no mundo esse ano, se apreciando +8,5% contra o Dólar. Isso por conta do forte fluxo de investidores estrangeiros que estão comprando ativos brasileiros, dos juros maiores no Brasil, e dos fortes números da balança comercial brasileira. Uma elevação do Dólar no mundo poderia segurar um pouco essa força de apreciação do Real, no curto prazo.
- Volatilidade: o índice de volatilidade da Bolsa americana, o VIX, que também é conhecido como o “índice do medo”, tem se elevado nas últimas semanas, e já se aproxima de 30% (estava em 16% no final de Dezembro). Isso não só pelas questões geopolíticas, mas também pela mudança de postura do Fed em relação ao aumento de juros nos EUA.
Índice de volatilidade da Bolsa americana (VIX)
Como as Bolsas se comportam após grandes eventos geopolíticos?
O estudo abaixo, feito pela Truist e publicado na Bloomberg, mostra como o índice S&P500 americano se comportou após todos os grandes eventos geopolíticos desde 1940. Após uma reação inicial negativa, o índice S&P500 se recuperou, e havia subido nos 6 e 12 meses subsequentes em 67% e 75% das ocasiões, respectivamente. A média de performance 6 meses após foi de +5,5% e 12 meses após de +8,6%.
A diferença que vemos atualmente é que a elevação dos riscos geopolíticos vem em um momento delicado ao mercado, pois a alta inflação e o início da retirada dos estímulos monetários no mundo já são uma grande preocupação para os investidores. As tensões geopolíticas adicionam a essa lista de preocupações aos investidores, e pode ajudar a deteriorar ainda mais o sentimento.
Porém, a história mostra que não se manter investido durante esses períodos, e sair completamente da renda variável, se mostrou não ser a melhor estratégia.
O que fazer nesse cenário? Ter caixa e calma
A melhor estratégia a seguir nesses momentos é ter caixa, se manter investido, manter a diversificação na carteira, e manter a calma.
Manter o caixa é importante para podermos nos beneficiar das oportunidades que aparecem em momentos de volatilidade de mercado. Se manter investido no mercado é também muito importante, pois o mercado tende a se recuperar desses eventos geopolíticos, como mostramos acima.
Manter a diversificação na carteira é a melhor forma de proteger nosso patrimônio e ter retornos balanceados ao longo do tempo. E manter a calma é muito importante para conseguirmos executar essa estratégia em momentos de estresse elevado.
Fonte: Expert XP.
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