Errar ou não errar, eis a questão.

Final de ano, já avançados em dezembro e na véspera da última reunião do COPOM, chegamos no momento de analisar investimentos e resultados. Lembrando sempre do passado recente atípico de pandemia.

Projeções sempre foram o “Calcanhar de Aquiles” no universo de economistas e financistas. Num dilema de comparar o que se esperava com o que de fato ocorreu e descobrir o que mudou, olhamos o último relatório Focus de 2020, com dados divulgados naquele dezembro.

As projeções para 2021 eram de que a taxa Selic seria de 3,00% ao ano em dezembro, e de que a inflação medida pelo IPCA encerraria o ano com 3,32% em 12 meses. Os prognósticos para 2022 eram de um IPCA de 3,50% e de uma taxa Selic por volta de 4,50%.

E agora, no último relatório publicado na segunda feira dia 06/12/21, com a taxa Selic prevista e já certa para 2021 em 9,25%, e a expectativa de inflação para encerramento do ano em 10,18%. Também a taxa Selic projetada para o fim do ano que vem veio subindo sistematicamente todos os meses desde o início deste ano, sendo esperada para dezembro de 2022 chegar em torno de 11,25%.

Observando-se a série de relatórios Focus divulgados pelo BACEN, é possível notar que o mercado foi corrigindo seus prognósticos sistematicamente ao longo do ano. Olhar as previsões antigas e tentar antecipar os fatos é uma tarefa ingrata, pois essa entidade chamada mercado é por demais casual. No entanto, é um excelente exercício de humildade.

Então: “Errar ou não errar, eis a questão?!”

O BACEN errou ao reduzir a taxa básica assumindo posição dovish e lançar mão do forward-guidance, inclusive com apoio de relevantes agentes econômicos? Ou o BACEN está errando agora, assumindo uma posição hawkish com aumentos na taxa básica para conter a inflação, mantendo-se atrás da curva e não entregando o precificado na última reunião?

Fica difícil, não? Se comparar o trabalho do Comitê de Política Monetária (COPOM) com o de seu paralelo em solo americano, o Federal Open Market Committee (FOMC), sabe-se que a tarefa no Brasil é muito mais difícil. Por aqui não há apenas uma memória inflacionária, mas também toda uma estrutura de indexação espalhada por diversas cadeias econômicas.

Agora, será necessário que os juros permaneçam altos durante bastante tempo de maneira a fazer tanto os preços quanto as expectativas convergirem para o centro da meta, para tentar trazer para a jaula o dragão e voltar ancorar as expectativas de mercado. Por um lado, uma pequena sorte do BACEN pela atividade econômica fraca, e por outro lado o azar do povo brasileiro. Assim, esperamos que uma vez metabolizadas as altas de petróleo, de outras commodities e a apreciação do real frente ao dólar, sejam suficientes para conter a alta de preços generalizada. Mesmo assim, mesmo que desacelere, o remédio para isso será amargo.

Por: Delmison Johnny Vivan (johnny.vivan@finanblue.com.vc)

Executivo de carreira com 25 anos de atuação no mercado financeiro e de capitais, registrado por “Honoris Causa” desde 2.011 como Consultor na CVM sob nº 655-6.