O Itaú Unibanco planeja oferecer crédito por meio do Pix, entrando num terreno que tem potencial para competir com sua própria operação de cartões. O projeto foi selecionado para fazer parte do sandbox regulatório – um ambiente para inovações – do Banco Central (BC) e será encabeçado pela própria Itaucard.
Com isso, o Itaú é o primeiro dos grandes bancos a se movimentar para oferecer o Pix Crédito. O banco não abre detalhes da estratégia, mas o movimento representa um novo passo na utilização do meio de pagamento instantâneo. Hoje, as transações do Pix são debitadas em tempo real da conta corrente, o que na prática se assemelha a uma operação com cartão de débito.
O produto é a mais recente de uma série de iniciativas que concorrem com a indústria de cartões. “Quando você gasta no cartão, só paga quando chega a fatura, e o lojista aceita porque a bandeira é uma garantia de que o banco vai pagá-lo. É um caminho tortuoso em que o lojista, o banco e a bandeira recebem pela transação”, afirma uma fonte do setor de pagamentos, para quem o projeto do Itaú pode ser “revolucionário”.
Uma concessão de crédito a partir do Pix dispensa as bandeiras e eventualmente até as credenciadoras, dois intermediários essenciais em cartões.
Se bem-sucedido, o produto pode competir com o parcelado sem juros – para o qual, há anos os bancos buscam alternativas porque são operações em que assumem o risco, mas não têm controle sobre a concessão do crédito. As instituições financeiras poderiam, por exemplo, oferecer condições especiais e descontos para estimular o uso do Pix Crédito como alternativa aos cartões. “Pode pagar no iFood, por exemplo, e ganhar o dobro de milhas. Há espaço para dar desconto em cima do que a bandeira ganhava”, diz o interlocutor.
Com novas ferramentas, o Pix começa a ganhar tração como meio de pagamento no varejo, embora ainda seja usado principalmente para transferências entre pessoas. O sistema, no entanto, ainda enfrenta alguns desafios, como casos de furtos e algumas tentativas de fraudes. Na sexta-feira, o BC comunicou o vazamento de 160,1 mil chaves Pix da instituição de pagamento Acesso.
Além do Pix, fintechs também vêm investindo em outras formas de facilitar pagamentos sem cartões. São os casos, por exemplo, do PicPay e do Mercado Pago, banco digital criado pelo Mercado Livre.
Segundo Renato Burin, líder de crédito do Mercado Pago no Brasil, uma das estratégias já utilizadas pela fintech é uma oferta de crédito nos moldes do “buy now pay later” (BNPL, ou compre agora, pague depois). “É um limite de crédito que damos para os clientes e eles podem comprar parcelado sem plástico e sem cartão pelo Mercado Livre, ou em qualquer lugar que aceita Mercado Pago ou QR Codes”, diz.
Esse modelo, que em geral permite pagar em quatro vezes sem juros e com entrada de 25%, tem feito sucesso nos Estados Unidos. No Brasil, porém, enfrenta o desafio de entrar em um mercado no qual o crediário existe há décadas e lojas permitem parcelamento em até 12 vezes sem juros no cartão.
Felipe Grando Soria, líder de inovação em pagamentos do Mercado Pago, enxerga um futuro de coexistência entre meios de pagamento digitais como o Pix e o mundo dos cartões. “Já percebemos uma eficiência de conversão no Pix muito similar à do cartão e achamos que pode superar os boletos bancários em breve, mas isso não quer dizer que as bandeiras vão acabar”, destaca.
Renato Burin exemplifica que os cartões de crédito hoje trazem uma gama de benefícios como milhagem e cashback, mas soluções inovadoras como o Pix ou o pagamento em QR Code podem atingir com eficiência tanto o público desbancarizado quanto o jovem que procura inovação e praticidade.
No terceiro trimestre do ano passado, o Mercado Pago atingiu o número de 20,5 milhões de pagadores únicos no Brasil, com uma carteira de crédito consolidada de R$ 2,2 bilhões.
Procurado, o Itaú não quis se pronunciar sobre a iniciativa que desenvolve no sandbox do BC. O PicPay também declinou do pedido de entrevista.
A Mastercard, por sua vez, respondeu que atua focada no desenvolvimento de um ambiente de pagamentos mais inovador, inclusivo, seguro e competitivo.
“Entendemos que novas formas de pagamento contribuem para o aumento na penetração dos meios eletrônicos de pagamento e beneficiarão toda a indústria”, diz a empresa. “Seguiremos desenvolvendo tecnologias bem-sucedidas até hoje como os produtos de crédito, débito e pré-pago e vamos continuar trabalhando para expandir as novas tecnologias como pagamentos por aproximação e em tempo real.”
Já a Visa afirmou que acredita em todas as iniciativas que ofereçam alternativas ao uso do dinheiro físico e tragam rapidez e agilidade ao mesmo tempo em que estimulam a transparência e a formalidade da economia.
Fonte: Inteligencia Financeira
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