Dólar cai mais 2% em Dezembro

No Brasil, o dólar caiu mais de 2% e voltou para a marca de R$ 5,05, em resposta à atuação do Banco Central (BC) no mercado de câmbio via leilão de contratos swaps cambiais. O discurso mais duro da autoridade monetária na condução da política monetária, visto no comunicado que explicou a decisão de ontem sobre a taxa Selic, também influencia os negócios com o dólar e mexe com o mercado de juros futuros, onde há queda forte das taxas de longo prazo e alta dos juros mais curtos.

Ontem, após o fechamento, o BC anunciou a venda de até 16 mil contratos de swap cambial em lote adicional – ou seja, não se trata de uma rolagem de contratos que vão vencer, mas sim uma adição de liquidez no sistema. Hoje, a oferta foi integralmente vendida ao mercado.

O alívio no câmbio se apoia ainda no tom mais duro adotado ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os rumos da Selic, que foi mantida em 2% ao ano. A instituição sinalizou que pode retirar em breve o forward guidance – indicação de que não reduziria o estímulo monetário no futuro, contanto que algumas condições fossem satisfeitas. Com perspectiva de juros mais altos, aumenta a expectativa de fluxo para o país em busca de rendimentos.

“Esperávamos que o aperto começasse em agosto e a Selic terminaria 2021 com taxa de 3,75%. Agora nós ajustamos nossa projeção de normalização da Selic para meados de junho e a taxa no fim do ano de 4%”, dizem os analistas do UBS BB.

No mercado de juros, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subia de 3,03% no ajuste anterior para 3,08%; a do DI para janeiro de 2023 avançava de 4,46% para 4,465%; a do contrato para janeiro de 2025 cedia de 6,11% para 6,05%; e a do DI para janeiro de 2027 recuava de 6,96% para 6,85%.

O desenho de uma curva menos inclinada já era vislumbrado por analistas desde ontem, quando o Copom divulgou o comunicado da última decisão do ano. O tom de mais aperto monetário do documento veio, essencialmente, com a indicação de que o “forward guidance” deve cair em breve, o que levou à avaliação de que um processo de normalização da política monetária pode ter início mais cedo do que o esperado por alguns participantes do mercado.

“Confesso que me surpreendeu o guidance sobre o ‘forward guidance’”’, diz Gustavo Arruda, economista-chefe do BNP Paribas Brasil. “Quando o BC avisa que, em algum momento isso vai deixar de existir, na prática ele já deixa. Você acabou de desfazer esse compromisso, mesmo que seja a termo. Assim, quando o ‘forward guidance’ for tirado passa a ser menos relevante”, avalia o economista.

Os sinais emitidos pelo Copom, inclusive, ajudaram a criar um ambiente propício para que o Tesouro fizesse o maior leilão de títulos públicos da história. Em termos de risco (dv01, métrica associada à variação das taxas de juros), a oferta de R$ 8,34 milhões foi totalmente aceita, com venda de 45 milhões de LTN e de 2,5 milhões de NTN-F. O Tesouro também aumentou a quantidade ofertada de LFT para até 1,5 milhão de papéis e vendeu 79,9% do total.

Fonte: Valor Globo (Adaptado)