A maior concorrência deve impulsionar as taxas do rotativo do cartão para baixo ao longo de 2018. De outro lado, com a receita pressionada, os altos calotes e o maior uso do débito, bancos tendem a subir as taxas do parcelado e impulsionar o uso do plástico.

Os últimos dados do Banco Central (BC) já apontam para uma redução de 161 pontos percentuais (p.p.) no rotativo em novembro de 2017 com relação a igual período de 2016, de 494,8% ao ano (a.a.) para 333,8% a.a. na taxa total.

De acordo com o professor da Saint Paul Escola de Negócios Carlos Honorato, a forte competição das fintechs e a entrada de novas soluções no mercado pressionaram uma baixa mais forte nos juros.

“Os novos players já têm taxas mais atrativas e soluções diferentes que desfazem o crédito rotativo como um produto de endividados. A escolha dos bancos era entre se adaptar ou ficar de fora”, explica.

Ele acrescenta que, com as pessoas sendo “forçadas” a parcelar as dívidas do cartão com as novas regras do rotativo válidas desde abril último, quem se endividava passa a usar o crédito mais conscientemente. “Nunca tivemos uma queda tão significativa e com previsão de continuidade. Até o cheque especial, agora, está com taxas mais altas do que a do rotativo regular [crédito com pagamento em dia de valor igual ou maior ao mínimo de 15% da fatura]”, diz.

Ainda segundo o BC, enquanto as taxas do rotativo não regular (com pagamentos em atraso ou inferiores ao mínimo de 15%) caíram 129,6 p.p. em novembro de 2017 frente igual mês de 2016 (de 540% a.a. para 410,4% a.a.), os juros da modalidade regular retraíram 231,4 p.p. na mesma relação, de 449,7% para 218,3% a.a..

Já o cheque especial mostrou redução bem inferior, de 6,9 p.p. para 323,7% a.a..

Para o consultor da Boanerges&Cia Vitor França, os altos índices de inadimplência, a retomada bastante gradativa da economia e a projeção de uma taxa básica de juros (Selic) estável ainda podem interferir nessas linhas. “É um ciclo vicioso que traz a pergunta de quem nasceu primeiro, os juros altos ou a inadimplência. Apesar de a agenda de juros ter evoluído muito em 2017, a taxa ainda é muito alta e ainda descolada da Selic”, comenta.

Os calotes no cartão atingiram 6,5% em novembro, a menor taxa em mais de dois anos. Estava em 7,8% no mesmo mês de 2016 e 8,2% em 2015. Dentre as modalidades regulamentadas pelo BC, no entanto, o rotativo ainda apresenta a maior taxa de inadimplência – era em 36,5% em novembro.

CompensaçãoAo mesmo tempo, os especialistas abordaram os juros no parcelado do cartão de crédito, que também ganharam outra cara em abril de 2017 com as novas regras mas que, na prática, mostraram um movimento contrário. Segundo o BC, os juros da modalidade subiram 13,1 p.p. em novembro de 2017 contra igual período de 2016, de 155,4% para 168,5% a.a..

Para França, a sinalização é de compensação da queda dos juros no rotativo e da pressão na receita bancária. “O banco incentiva o cliente a parcelar a fatura e aumenta a taxa da modalidade para tentar compensar parte da perda das receitas”, afirma França e pondera que isso continua em 2018.

“A pressão de uma Selic mais estável e do maior uso do débito vai bater à porta e as instituições vão tentar compensar, seja subindo juros do parcelado ou impulsionando o uso do plástico para a receita vir de outras formas”, conclui.

fonte:http://www.dci.com.br/financas/concorr%C3%AAncia-das-fintechs-pressiona-por-queda-maior-do-rotativo-banc%C3%A1rio-1.674047